quinta-feira, agosto 05, 2010

A Família das Aves

As fotos de família são geralmente pictogramas de elevado grau de pureza cromática. Porém, esta não contém grandes pontos de interesse. Mas, também, o que se espera em plena silly season?
Não, esta não é uma equipa blockbuster. Isso era o Tirsense, o seu rival, que ainda chegou a contar com Rashiid Daoudi, Giovanella, Goran, Paredão, Siasia, Toninho Cruz e o minúsculo Caetano. Isso sim, era um elenco de estrelas e com propensão para grandes efeitos especiais. O Tirsense era muito mais porreiro que o Aves, que dava nas vistas apenas por ter o Professor Neca ao leme. E logo uma temporada inteira, se fosse preciso. Ou durante várias temporadas. Aquela gente sofreu.
E com isto acabei de ser considerado persona non grata na Vila das Aves. É mais um local que tenho para riscar do meu mapa de Portugal. Com tantos riscos, acho que já só posso passear tranquilo em Fornos de Algodres. Como se aquilo tivesse algo de jeito para se ver... Pronto, agora já nem em Fornos de Algodres. Talvez ainda possa ir a Sernancelhe, então.
Retomando a foto, talvez estejamos a desmerecer o carisma inigualável do Professor Neca. Ele era a verdadeira alpista do Aves e até subiu o clube de divisão nesta época. Mas ainda iria a tempo de o descer outra vez no futuro, como quem diz “Estão a ver? Quem sabe, não desaprende”. Se calhar, também não devíamos olhar de relance aqueles sujeitos fardados à civil que posam orgulhosamente junto dos discípulos de Neca, de camisas abertas, ou de óculos escuros ou com simples t-shirts que realçam a volumetria do seu tecido adiposo. Nem menosprezar aquele bigode do sr. dirigente. Imagino que seja dirigente. Pela gravata e pelo bigode. O bigode não é um ornamento utilizado em vão – quem o nutre, nutre-o porque sabe que tem um status para cuidar. Mas este dirigente seria, no máximo, o segundo elemento mais importante do clube. Porque onde está Neca nada medra acima dele. E abaixo dele tudo se torna medra.
Acho que me tornei disléxico algures na última frase.
Depois há alguns pormenores igualmente simpáticos. O primeiro da fila de baixo, do lado esquerdo, cultiva uma pose blasé, do género “estou-me a lixar para o que vocês pensam” e teima em manter as mãos mais próximas do seu abono de família do que em cima dos joelhos, como todos os outros. Na mesma fila, o 3º elemento a contar da direita está nitidamente apertado e com dificuldades em arranjar espaço. Podia ser uma indisposição intestinal momentânea, mas cremos que ele era mesmo o elo mais fraco, o que ficava a aquecer toda a segunda parte e se preparava para entrar quando o árbitro dava o jogo por terminado. E na fila de cima estão dois símbolos: o central duradouro que foi Paulo Alexandre, na sua época de exílio de Chaves. Pensava ele que era pouco, no fundo era só tirar o “ch” e estaria em casa. Mas as coisas não foram assim tão lineares e ao fim de uma época voltou, acometido por terríveis cólicas de saudade, para o seu aconchego natural. Jurou que “Aves nunca mais”. Até baniu os canários e periquitos lá de casa. A outra figura, lá no canto superior direito, é o Vieira, a torre barbuda, o homem que um dia marcou um golo pelo Famalicão nas Antas e com isso despoletou nos adeptos portistas uma forte necessidade de agasalhar os elementos da comunicação social presentes nessa noite fria com calorosos pontapés e cuspidelas aquecidas. O típico “one-goal wonder”.
Neste plantel estavam ainda o goleiro Cândido, Jean Paulista, Nenad e Naddah. De quem ninguém sabe Naddah. Para dizer a verdade, isso também não interessa para Naddah.

2 comentários:

Anónimo disse...

Um post tão banal, como o antigo jogador que o escreveu.

Dassin disse...

Bom, pode ser banal, mas mesmo os clubes pequenos têm direito aos seus cromos. E o professor Neca é um verdadeiro cromo honoris causa.
Cumprimentos para todos

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